Já se foi a época em que era possível comprar um carrinho popular com preço abaixo dos R$ 30 mil, não é mesmo? Hoje praticamente nenhum modelo sai da concessionária por menos do dobro desse valor.
O Renault Kwid é a exceção, que tenta se equilibrar pouco abaixo do valor de R$ 60 mil. O Fiat Mobi passa um pouco disso e depois costumam vir opções como Hyundai HB20, Fiat Argo e Volkswagen Gol, já na casa dos R$ 70 mil.
Para entender o que exatamente está acontecendo, listamos abaixo os 5 principais motivos da inflação automotiva, desde impostos e custos produtivos até a desindustrialização nacional. Não perca!
1. Os avanços tecnológicos
Antes de tudo, essa compreensão pode começar com o simples gesto de entrarmos em um automóvel zero-km atual. Perceba os equipamentos e itens de série, que são cada vez mais avançados, mesmo nos carros de entrada.
Antes direção hidráulica, câmbio automático, ar-condicionado e até vidros elétricos eram opcionais. Hoje isso é o básico e até GPS e central multimídia já estão se popularizando como algo indispensável.
Sem falar numa pressão geral para tornar os veículos mais seguros, que tem popularizado airbags e sistemas de segurança. Inclusive, montadoras como Audi, BMW e Mercedes já falam em abandonar o segmento B, apostando em “carros de entrada de luxo”.
2. Altos custos de produção
Outro ponto que podemos identificar só de olhar em volta é a recessão geral, especialmente por causa da pandemia. Assim, desde 2020 que matéria-prima, insumos e até commodities estão em falta, encarecendo o mercado todo.
Claro que o peso maior vem da indústria primária, que vemos no custo do aço, do ferro, do cobre, da borracha e até da energia elétrica. Mas nisso também entram insumos como a crise dos semicondutores de que tanto se fala.
O que retoma o ponto da decisão por parte das montadoras: como faltam peças básicas, elas preferem agregá-las aos carros mais caros do portfólio. Afinal, eles é que dão um retorno maior para as fábricas.
3. Os famosos impostos
Quem nunca ouviu falar que o Brasil cobra impostos de primeiro mundo e devolve com serviços de terceiro? No setor automobilístico o peso tributário não é diferente: só as concessionárias pagam 31% dos valores negociados em impostos.
É isso mesmo, um terço do valor do carro fica para o governo. O que obviamente quer dizer que sai do nosso bolso, já que as marcas repassam a carga para o cliente final. Ao todo, são três tributos federais (IPI, PIS e COFINS) e um estadual (ICMS).
Se lembrarmos que nos idos de 1990 o IPI dos zero-km 1.0 era um simbólico 0,1% (hoje é 5,7%), entenderemos melhor. Aliás, foi a época que firmou o setor e popularizou paixões nacionais com Gol, Corsa, Uno e Palio, por exemplo.
4. Taxa de câmbio e crédito
Já que falamos de fatores nacionais, que tal lembrarmos do impacto cambial? Isto é, do fato de que o dólar chegou ao valor de R$ 5,25 recentemente? Com nossa moeda tão desvalorizada, o preço do carro zero-km vai às alturas.
Outro ponto que pode mexer com a inflação automotiva nas contas de muitos brasileiros, é o parcelamento do carro novo. Ou seja, o fato de que o crédito está cada vez mais caro no mercado nacional.
Isso se deve à taxa Selic, que já chegou aos 13,25% em 2022 e promete subir mais ainda. Sendo que em 1997, por exemplo, ele chegou a ficar em apenas 1%.
5. Desindustrialização nacional
Por fim, quem circula sempre as notícias do meio também já percebeu que o Brasil tem perdido frequentemente regiões e plantas estratégicas para o segmento.
A Ford, com interrupção fabril nacional completa, e a Mercedes-Benz com fechamento da unidade de Iracemápolis (SP), são tristes exemplos. Ou mesmo casos que prometem ser temporários, como o da Caoa Chery em relação a Jacareí (SP).
Após a pandemia, a tendência de desindustrialização se tornou mundial, contribuindo para a inflação automotiva. O caso do Brasil tende a ser ainda pior, porque além das perdas temos o risco de não acompanhar as inovações, como a da eletrificação.