Em 2005, quando o protocolo de Kyoto (tratado internacional para redução de emissões) entrou em vigor, a frota global de veículos elétricos não passava de algumas centenas de unidades. Desde então, os números de vendas de carros elétricos só cresceram e esses modelos são cada vez mais importantes.
A necessidade de reduzir as emissões de gases efeito estufa fez os países da Europa, além de Estados Unidos e Japão investirem pesado no setor, com a expectativa de que até 2020 seriam vendidos mais de 20 milhões de carros elétricos no mundo. Os investimentos previstos de apenas nove empresas são equivalentes a R$ 560 bilhões até 2022.
De qualquer forma, o carro elétrico não é uma necessidade urgente no Brasil como em outros países, onde a questão ambiental exige a redução drástica de emissões. No Brasil, o etanol já colabora com redução de emissões de gases.
Entre 2016 e 2017, o número de países comprometidos com a eliminação do motor de combustão interna saltou de dois para quinze. Até o fim deste ano, Estados Unidos e União Europeia devem anunciar decisões políticas para reduzir as emissões do setor.
Leis antipoluição mais rígidas fazem efeito
A Agência Europeia do Meio Ambiente (EEA) divulgou dados provisórios sobre as emissões médias de carros e vans registrados no ano passado. Embora ainda não sejam definitivos, os números já dão uma indicação importante dos efeitos positivos que a eletrificação está tendo sobre o meio ambiente.
A AEA informa que a União Europeia, a Islândia, a Noruega e o Reino Unido viram uma diminuição no CO2 médio emitido por veículos novos em 2020.
No caso dos automóveis, o dióxido de carbono disperso no meio ambiente foi igual a 107,8 gramas por quilômetro (gCO2 / km): é 14,5 g a menos (12%) em relação ao ano anterior. Já nas vans, as emissões atingiram 157,7 gCO2 / km, com redução de 2,3 g (-1,5%). Isso se deve ao crescente número de registros de veículos elétricos que, conforme informado pela agência.
Os veículos elétricos passaram de 3,5% do mercado em 2019 para 11% em 2020. Para os caminhões, subiram para 2,3%, partindo de 1,4% dois anos atrás.
Alguns fabricantes já declararam quando migrarão completamente para a eletricidade, mas padrões mais rígidos de CO2 são necessários para atingir zero emissões e garantir que todo o setor descontinue os motores a combustível fóssil até 2035.
E alguns países estão fechando o cerco contra o motor a combustão e já estabeleceram o prazo de proibição da venda de veículos que agridem o meio ambiente. Com a medida, se escancara o caminho para os veículos elétricos, que não emitem gases poluentes na atmosfera.
Automóvel 100% elétrico não polui nada?
Não é bem assim. O veículo elétrico precisa ser analisado em dois momentos. Quando já está nas ruas rodando, de fato, tem a vantagem de ser amigável ao meio ambiente. Mas é preciso fazer uma análise mais ampla e observar também a etapa de produção do automóvel. Na linha de montagem, as emissões de dióxido de carbono estão presentes. Ainda assim, o carro elétrico leva vantagem sobre o equipado com motor convencional.
Um estudo da Universidade Tecnológica de Eindhoven (Holanda) apontou que ele é menos poluente também no processo de produção. A fabricação dos veículos elétricos e a combustão são praticamente idênticas. A energia necessária para a manufatura não muda.
Fontes renováveis
É preciso avaliar, como se dá a geração de energia para fazer e carregar a bateria dos carros elétricos, de acordo em cada país. No Brasil, por exemplo, 85% da energia vem de fontes renováveis e, desse montante, 72% são limpas. Sendo que aproximadamente, 60% provêm de recursos hídricos, 10% são eólicos, 2% são derivados do sol e o restante surge da biomassa – renovável, mas não limpa. Os outros 15% da geração de energia são oriundos do petróleo e do carvão.
Como no país a energia elétrica vem de fontes limpas e renováveis, podemos dizer que, sim, o carro elétrico polui bem menos. A conta é simples: O CO2 liberado durante a fabricação será compensado com sobras ao longo de toda sua vida útil sem poluir o ar. Nunca mais o carro elétrico vai gerar gases tóxicos. O carro com motor a combustão, por sua vez, sempre precisará queimar combustível fóssil para funcionar. E só piora com o tempo, em função do desgaste do motor.
Fontes limpas para aumentar eficiência dos motores
A linha de montagem de automóveis elétricos em países como a China ainda utiliza a matriz energética “suja” das usinas de carvão para a geração de energia. Mas uma tendência global é a limpeza da energia, cada vez mais extraída de fontes limpas e renováveis, como solares e eólicas.
Segundo estudos realizados pela organização Transport and Environment (T&E), com sede em Bruxelas (Bélgica), os modelos elétricos feitos na Europa emitem quase três vezes menos CO2 que similares a gasolina ou diesel.
O levantamento conclui que, mesmo no pior dos cenários, um carro com propulsão elétrica fabricado na China e dirigido na Polônia apresenta níveis 22% menores de CO2 que o a diesel e 28% em relação ao a gasolina. Na outra ponta, ou seja, na melhor das hipóteses, um carro elétrico feito e conduzido na Suécia emite 80% menos CO2 que o a diesel e 81% menos que o a gasolina. Há outros indicadores: o Tesla Model 3, por exemplo, emite 65% menos gases poluentes em comparação a um Mercedes-Benz Classe C.
Isso acaba com o mito de que dirigir um carro elétrico prejudica mais o meio ambiente que um modelo a combustão. Estudos preveem que os benefícios dos carros elétricos aumentarão na Europa. Até 2030, eles reduzirão quatro vezes as emissões de CO2, devido à expansão das energias renováveis.
E o etanol no Brasil?
A União da Agroindústria Canavieira do Estado de São Paulo (Unica) revela que a safra de 33,5 bilhões de litros de etanol hidratado e anidro de 2019/2020 corresponde a 50% de participação no abastecimento da frota nacional de veículos leves, o que corresponde à redução de 80 milhões de toneladas de CO2.
Estudos reconhecem que o etanol polui menos e a plantação de cana absorve maiores quantidades de CO2. Ainda assim, o etanol está longe de ser um combustível renovável e que represente transição ao ser usado na composição do biocombustível. A preparação do solo para o plantio, a utilização de produtos químicos que emitem CO2, as queimadas e o transporte até as usinas feito em caminhões movidos a diesel compõem um cenário poluidor, prejudicial ao meio ambiente.
Carros elétricos no Brasil
A ausência de metas e objetivos claros por parte do Governo Federal brasileiro em relação à promoção da mobilidade elétrica e de políticas públicas mais claras em direção à eletrificação veicular podem deixar o Brasil em situação complicada no mercado automotivo. Questiona-se como o país poderá exportar os produtos de sua indústria automotiva se não tiver produtos capazes de atender a demanda por elétricos dos demais países.
No caso brasileiro, que tem dimensões continentais, e falta de infraestrutura adequada, não será uma única solução tecnológica que atenderá às demandas pelo transporte de baixa emissão. Devido às especificidades de cada uso e características dos diferentes veículos, haverá várias tecnologias de propulsão convivendo por ainda muito tempo.
Fato que muitos fabricantes de automóveis já tomaram decisões globais de investir somente em modelos eletrificados daqui para frente, o que obrigará as filiais brasileiras a se adaptarem de uma forma ou outra a nova realidade.
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