Você já ouviu falar em antigomobilismo? Talvez nunca tenha ouvido essa palavra, mas certamente reconhece um carro clássico quando cruza com ele na rua, seja por conta da placa de colecionador, ou pelo próprio estilo diferenciado dele.
Mais do que um mero hobby, trata-se de uma verdadeira paixão nacional, tanto que as feiras e os grupos de encontro dessa área só crescem. Além de que já temos nossa Federação Brasileira de Veículos Antigos (FBVA).
Inclusive, uma pesquisa da EAESP (Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV), revela que carros antigos brasileiros valorizaram até 135% acima da Selic. E, segundo a Unesco, os automóveis antigos são um Patrimônio Cultural da Humanidade.
Para entender melhor quais são os 10 principais modelos do folclore automotivo nacional, basta seguir adiante na leitura.
O que é um carro de colecionador?
No Brasil é famosa a placa preta, que identifica os carros de colecionadores.
Isso já mostra que não basta a idade do carro, mas se você quiser entrar na classificação, vai precisar cumprir algumas regras e atender certas exigências. Isso também mudou depois da entrada das novas placas do Mercosul em solo nacional.
Como ficou a placa preta Mercosul?
Desde 1988 o Brasil já tinha sua lei de antigomobilismo, mas muitos vinham criticando que ela estava defasada. Sua atualização entrou em vigor em janeiro de 2022, aprovando o Projeto de Lei 197/21, que diz o seguinte:
“Serão considerados originais os veículos que tiverem preservadas todas as características de fabricação, envolvendo mecânica, carroceria, suspensão e aparência.”
A novidade segue os padrões do Mercosul e tem alcance federal, valendo para o Brasil todo. Temos um artigo só sobre isso, que é: Como conseguir a placa preta em carros e quais são seus benefícios.
Onde comprar um carro de colecionador?
Na prática, vale lembrar que geralmente os carros de colecionadores podem ser comprados de três formas distintas:
- Venda direta;
- Leilões;
- Importação.
Hoje a internet está aí para ajudar quem tiver o sonho de encontrar seu próprio carro clássico, seja qual for o modelo e as condições. Comprando sem a placa, você paga mais barato e pode fazer a recuperação ou formalização por conta própria.
Participar de leilões, clubes e encontros presenciais também pode ajudar. Para entender melhor os principais modelos que você vai encontrar por lá, confira logo abaixo!
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1. VW Fusca
Sem dúvida um dos prediletos da lista, esse é um dos carros mais famosos e mais históricos do mundo. Ele foi fabricado pela Volkswagen, na Alemanha, de 1938 até 1978. No Brasil continuaria até a década de 1980.
Depois o New Beetle retornaria no fim da década de 1990, já perto da virada do século. Mas a sua versão realmente clássica, que ainda encanta colecionadores, é a de 1982.
Estamos falando de nada menos do que o polêmico Fusca 1300 GL, a versão mais rara fabricada no Brasil. Ela foi o primeiro modelo de luxo, depois de alguns anos de lançamento sem muito sucesso.
Foi também um modo de tentar retomar a fama do modelo no Brasil, sendo que na Alemanha a fabricação já havia parado. Sua caracterização externa é marcada por vidros verdes e para-choques com a famosa borracha de proteção.
O interior é ainda mais diferenciado, contando com bancos dianteiros com encosto de cabeça e carpetes de buclê. Além de acendedor de cigarro, ar quente e desembaçador de vidro traseiro.
O motor é de 4 cilindros opostos, com potência de 46 cv a 4.600 rpm. O câmbio é manual de 4 marchas e conta com tração traseira. Os pneus são de 5,90 x 14 diagonais.
2. Ford Maverick GT V8
Esse modelo foi trazido ao Brasil pela Ford a partir de 1973 (nos EUA desde 1969), para concorrer com o Opala da Chevrolet. Ao contrário do que muitos pensam, sua produção não foi tão bem sucedida.
O Opala chegou a lançar mais de 1 milhão de unidades, mas o Maverick quase não chegou a 100 mil. Por isso mesmo, o grande charme do modelo está especificamente no GT V8 5.0, esse sim fez história.
O motor é o modelo 302, trazido dos EUA, o que colocava carros americanos esportivos para correrem pelas ruas do Brasil.
Foi um sucesso, com motor V8, 4.950 cm³, potência de 197 cv a 4.600 rpm e câmbio manual de 4 marchas. Depois do GT VO sairiam as versões Super, Super Luxo e a de quatro portas.
3. Chevrolet Opala SS 4.1
Faz mais de 50 anos, foi quando a Chevrolet (hoje a marca que mais vende veículos no Brasil) decidiu lançar seu primeiro carro de passeio, em 1968.
Sua história iria até 1992, chegando a quase disputar em números de unidades emplacadas com o Fusca e a Kombi, da Volkswagen.
Embora não chegue a contar com um motor V8, o Opala SS 4.1 é sem dúvida um dos esportivos mais famosos e mais potentes da década de 1970.
Sua versão mais desejada até hoje é a de 1971, um sedã estilo familiar de quatro portas, que conta com bancos individuais e com câmbio de quatro marchas (a alavanca sai do assoalho).
Além de chegar aos 100 km/h em cerca de 12 segundos, ele conta com motor seis cilindros com 4,1 litros, e potência de 140 cv. Seu design ainda tem o diferencial das faixas pretas na carroceria e das rodas largas.
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4. Escort XR3 Conversível
O ano era 1985, a Ford queria aproveitar o momento político-econômico (de abertura do mercado econômico e de ares de redemocratização), para marcar também a história automobilística de nosso país. E conseguiu!
As importações haviam sido proibidas desde 1976, então o momento era de tensão e expectativa. O modelo do Escort XR3 conversível dessa 1ª geração de 1985 chegou baseado em projetos europeus, mas com 350 peças exclusivas, que faziam dele algo único.
A propaganda focava um carro de luxo para descer à praia, com bancos de veludo cinza-claro. Seu motor é a álcool, 1.6 e com potência de 83 cv (potência alta para sua engenharia, graças a modificações nas válvulas e no carburador).
O design, responsável por sua presença marcante, garante uma capota diferenciada, que resiste até a uma bituca de cigarro lançada do lado de fora. E ainda garante uma acústica bacana quando você está do lado de dentro.
5. VW Gol GTS 1.8
Aqui temos, simplesmente, um dos carros mais vendidos do Brasil durante duas décadas. O Gol, também conhecido como Gol Quadrado.
O seu grande modelo inesquecível, que ainda hoje arrasa o coração dos colecionadores, é o Gol GTS, que saiu nos anos de 1987.
Ele já começa chamando atenção pelo design, consideravelmente diferenciado já para sua época. Além de spoiler traseiro e rodas vistosas, contava com molduras laterais e para-choques mais proeminentes.
Sua frente rebaixada de fábrica (mesmo que não fosse mais que 5 cm), ajudava no sentido de vender a proposta esportiva do carro. Junto com luzes de milha e de neblina.
Sem falar no motor 1.8, com potência de 99 cv. Lembrando que esse número fronteiriço era maquiado, com o intuito de não passar de 100 cv e não mudar o patamar tributário. Mas o desempenho real é de 110 cv!
6. Passat LS Village
Quer mais um modelo revolucionário para os padrões da época? Eis o Passat LS, um ícone dos anos 1970, que se manteve competitivo por mais de uma década.
Mas o que realmente fez história foi seu modelo de 1984, com faróis inspirados nos modelos da Audi. O motor é de 1.6 com 82 cv. Embora já houvesse modelos (mais caros) com cinco marchas, ele se sai muito bem com apenas quatro.
O câmbio tem escalonamento diferenciado, garantindo um arranque que chega a dar uma erguida na frente, dando todo um toque esportivo à proposta.
Esse modelo ainda tem baixo ruído e direção leve mesmo em altas velocidades, o que conseguiu, à época, uma aprovação de ninguém menos que Ayrton Senna, ajudando a imortalizar o modelo LS Village de 1984.
7. Ford Corcel 1968
Hoje é consenso que os carros médios nada mais são que aqueles que têm uma dimensão acima dos carros pequenos, e abaixo dos carros grandes. Soa até óbvio falando assim, mas acontece que um dos primeiros deles foi, no Brasil, o Ford Corcel.
Ele foi apresentado no Salão do Automóvel, nos idos de 1968-69, ao lado do Galaxie, que era uma das barcas da época. E ele já fazia jus a isso, indo muito além apenas da medida ou de uma classificação meramente nominal.
Esse Corcel conta com tração dianteira, radiador já selado, coluna bipartida de direção e freios da frente a disco. Ou seja, tudo que havia de mais moderno e que à altura só se via na indústria automotiva da Europa.
Aliás, o modelo foi desenhado em parceria com a Renault, aliando conforto e economia de modo realmente acessível e diferenciado. Uma influência herdada dos Aero-Willys ainda garantiu uma engenharia de carro requintado e maior do que um “médio” normal.
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8. Puma GTE
O que dizer sobre um modelo que tinha chassi de Brasília, mas que acabou caindo nas graças de alguns pilotos da Fórmula 1, entre eles Emerson Fittipaldi? Esse é o Puma GTE, elogiado desde o começo por sua estabilidade.
O motor é um boxer 1.5 refrigerado a ar, com carburador extra e escapamento modelo esportivo. O conjunto chega a 150 km/h e uma potência de 60 cv. O grande diferencial aqui é, justamente, a carburação dupla.
À altura a engenharia da Puma já tinha sofrido suficiente influência da Ferrari, agora era a vez de dialogar com a Lamborghini, coisa que a marca fez com sucesso.
A grande marca se deu em 1970, mas o modelo de 1973 também merece destaque. Foi o famoso Spider, em versão conversível com teto de lona. A essa altura a carburação dupla já era uma Solex 40, com até 70 cv que chegava a 165 km/h.
Depois ainda sairiam o Puma GTS, o GTI e o GTC. Em 1994 o modelo saiu de linha, entrando para a história com todas as versões, mas sobretudo as primeiras do Puma GTE, ainda hoje um sonho nacional dos amantes do antigomobilismo.
9. Cadillac DeVille
Aqui temos um modelo que obviamente fez história, mas que acaba combinando mais com a cultura norte-americana do que com a nossa. Seu design sempre foi grande e generoso, ficando famoso pelo termo “rabo de peixe”, por conta de sua traseira estendida.
A montadora sempre foi a GM, mesma dona da Chevrolet, da GMC, da Baojun e outras. Desde 1949 o modelo logo se consagrou como uma referência para o mundo todo. Hoje ele é encontrado no Brasil por valores que chegam a superar os R$ 300 mil.
O modelo de 1949 realmente fez história. Seu interior de couro harmoniza com painéis e tapeçarias refinadas, além de espaço para seis pessoas. O motor é nada menos que um V8 de 5.4, com potência de 160 cv. Uma verdadeira máquina bruta!
Como se não bastasse, o modelo se inscreveu nas 24h de Le Mans em 1950. A GM conseguiu garantir o 10º lugar, superando carros muitos mais rápidos e mais velozes e consolidando sua eficiência em termos de engenharia.
10. Bônus: Kombi Corujinha
Por fim, não podemos nos despedir sem falar da Kombi Corujinha, como ficou carinhosamente conhecido essa verdadeiro ícone da indústria automobilística do Brasil e do mundo todo, ao lado de modelos como o Fusca, também da Volkswagen.
Aliás, começamos esse ranking com essa marca e é com ela que vamos terminar. Esse modelo não tem nada de esportivo, naturalmente, mas está entre as maiores paixões nacionais, inclusive de alguns colecionadores.
Além do design diferenciado do modelo Corujinha, que foi vendido de 1950 a 1975, ele revolucionou no quesito aproveitamento de espaço interior. Por isso mesmo, serviu para diversas finalidades, tais como:
- Uso familiar;
- Uso como picape;
- Uso de serviço escolar;
- Uso como van;
- Uso como camper;
- Uso como food truck.
Daí que essa Kombi faça parte do imaginário afetivo de muitas pessoas, que passearam nela ao menos uma vez na vida. Assim como faz parte do desenvolvimento comercial do país, sobretudo no caso de empresas familiares e pequenos negócios.
Considerações finais
O antigomobilismo é uma verdadeira ciência no Brasil, como algo que ajuda a formar nosso folclore automotivo de modo único no mundo todo.
Claro que haveria outros modelos para incluir nessa lista. Talvez o Dodge, a Brasília, a Karmann-Ghia e tantos outros. Mas a ideia aqui não foi ser exaustivo, embora um pouco saudosista.
Diz aí, o que você achou do ranking, e qual outro modelo você faria questão de incluir?