A Volkswagen tinha ambições grandes quando lançou a linha de elétricos ID na Europa. Apostou alto acreditando que ID.3 poderia logo substituir o Golf, e seus descendentes, como o SUV ID.4, iriam ganhar as garagens de europeus e americanos ainda nesta década. Não foi bem o que aconteceu, e a marca precisou rever os planos para toda a linha de elétricos. Também implemenou mudanças profundas para contornar a crise no plano que traçado para salvar a Volkswagen após o escândalo dos motores a diesel da década passada.
Veja ofertas de carros usados na Karvi!Tanto que o ID.4 está no Brasil quase que de passagem. A Volkswagen trouxe 250 unidades do modelo para assinatura, em vez de vendê-lo para os consumidores. Quem quiser, poderá tê-lo por 24 meses apenas, com mensalidades a partir de R$ 6.990 podendo rodar até 1.500 km no mês. Há possibilidade de assinar pacotes com 2.000 km mensais, mas a mensalidade pula para R$ 8.490, ou no máximo 2.500 km, que custam R$ 8.890 por mês.
O ID.4 é um bocado diferente de tudo o que se entende por um Volkswagen até então. E isso pode ser bom e ruim em vários aspectos. Ao entrar, basta pisar no freio para ligar o carro, dispensando o botão de partida (ainda presente na coluna de direção). O câmbio é operado por um seletor giratório ao lado do pequeno painel de instrumentos, de fácil acesso e rápido de assimilar todas as funções. Para desligar, basta apertar o botão na ponta do seletor para colocar o carro em Park, sair do carro e trancá-lo.
No entanto, tanta mudança pode causar um “choque de modernidade” para quem passou anos apertando botões físicos, virando chaves e movendo alavancas no console central. Deixar o ID.4 num estacionamento com manobristas por vezes requer alguns minutos de paciência para explicar como tirar o carro do lugar.
Mas, uma vez habituado com os comandos, a vida a bordo do ID.4 é confortável. O SUV mede 4,58 metros de comprimento, cerca de 20 cm a menos que um Tiguan Allspace. Porém, o entre-eixos é quase o mesmo, de 2,76 m para o ID.4 e 2,79 m no Tiguan, o que coloca em perspectiva o bom espaço interno do modelo elétrico. O ID.4 também é 2 cm mais largo do que o Tiguan, tornando a cabine ampla, sensação reforçada pelo painel recuado e minimalista.
Motorista e passageiro da frente viajam em bancos confortáveis, com diversos pontos de ajustes elétricos e três memórias. O revestimento mistura couro e camurça e é de boa qualidade, considerando que, a despeito do alto valor no mercado brasileiro, o ID.4 não é um carro de luxo.
Atrás, dois passageiros têm bom espaço para pernas e cabeças, e um terceiro até consegue se acomodar com relativo conforto. Há duas saídas USB-C para os ocupantes do banco traseiro (e outras duas dentro do console central, além do carregador sem fio para quem vai na frente), e apóia-braço central com porta-copos.
Como as unidades que vieram para o Brasil são 2023/2023, são anteriores à atualização que já ocorreu na Europa e Estados Unidos, que deu ao ID.4 uma bem-vinda melhora na central multimídia.
E não é a toa que o sistema é alvo de críticas desde o lançamento do SUV em 2021. A central é um tanto lenta nas respostas e tem diversas funções de uso corriqueiro escondidas dentro de sub-menus do sistema. O sistema tem Android Auto e CarPlay, ainda com fio, e permite configurar as cores das luzes internas em conjunto com os temas dos menus, e ainda emparelhar com a música que estiver tocando para criar uma “atmosfera” a bordo do ID.4.
No alto do painel, uma barra luminosa ainda comunica ao motorista algumas mensagens por meio de cores e flashes para chamar atenção. Algo como as luzes de uma assistente virtual, pode comunicar o status de recarga da bateria, indicar perigo se o motorista abrir a porta e um carro estiver vindo, mostrar as direções do próximo passo da navegação, e vários outros comandos.
Ajustar a temperatura do ar-condicionado poderia ser simples, mas para isso é necessário apertar o atalho “Clima” abaixo da tela, e selecionar a temperatura desejada. É possível regular a temperatura deslizando o dedo sobre uma minúscula faixa azul e vermelha quase invisível na base da tela, mas a precisão é ínfima e a faixa ainda não é iluminada, tornando impossível o ajuste a noite por ali.
Esse é um exemplo das mudanças radicais que a Volkswagen tentou implementar na gama ID, mas que foram fortemente rejeitadas pelos compradores. Assim como os comandos por toque no volante, que são práticos, mas também podem ser acionados inadvertidamente com qualquer encostada nos botões, posicionados justamente bem ao alcance dos dedos.
Na linha 2024, ainda não disponível no Brasil, os ID ganharam telas multimídia maiores e com mais capacidade de processamento, para que o sistema fique mais rápido. A VW também melhorou os comandos de uso constante, como do ar-condicionado e aprimorou os assistentes por voz, para tentar “dar uma ajudinha” quando o motorista se enrolar ao volante.
Desempenho
As unidades trazidas ao Brasil são todas da versão Pro Performance, com motor único, traseiro, com 204 cv e 31,6 kgfm de torque. O desempenho não é balístico, mas é coerente. Segundo a VW, o ID.4 vai de 0 a 100 km/h em 8,5 segundos, boa marca, considerando o peso superior às duas toneladas. O SUV acelera com decisão e vai bem até o limite de velocidade das estradas brasileiras, mas é notável o aumento do consumo de energia em retomadas em velocidades mais altas.
O peso elevado (2.049 kg), aliás, se faz sentir ao volante. O SUV é até esperto, mas não passa muita leveza. A suspensão tem bastante carga nos amortecedores e os pneus de perfil baixo (235/45 R21) sofrem um bocado em ruas esburacadas. As belíssimas rodas, enormes, de 21″, também merecem atenção especial.
Segundo o Inmetro, a autonomia é de 370 km, número que é possível de chegar e até superar no mundo real. Em teste, conseguimos média de 6,7 kWh/km num trajeto total de 350 km, o que considerando os 100% da capacidade dos 77 kWh da bateria do ID.4, resultaria numa autonomia hipotética acima dos 500 km.
A recarga pode ser feita de algumas formas. Em casa, usando o carregador que acompanha o carro ou um wallbox. Neste caso, o tempo de recarga pode variar entre 8 a 12 horas. Num carregador rápido, o ID.4 pode levar até 28 minutos para ir de 10% a 80% de carga. Durante o teste, o ID.4 conseguiu carregar 10% da bateria em exatos 10 minutos plugado num carregador rápido.
Assinatura
O valor da assinatura, entre R$ 6.990 e R$ 8.890 não é barato, e há outros modelos elétricos por valores mais em conta, mas também são modelos mais simples e menores do que o ID.4, como os BYD Dolphin (de R$ 3.611 a R$ 5.460), ou maiores e bem mais caros. A Audi oferece apenas o Q8 e-tron para assinatura, a partir de R$ 19.099 mensais e quem mais se aproxima é a Renault, com Mégane e-tech por R$ 6.379 mensais.
O ID.4 é um SUV elétrico diferente de tudo o que a Volkswagen já ofereceu até hoje, fácil de conviver no dia a dia, com autonomia útil para rodar mais de uma semana sem recarregar. A assinatura, inclusive, já caiu de preço em relação ao lançamento, quando chegava a ultrapassar os R$ 10 mil e hoje é pouca coisa mais cara do que a de um VW Tiguan.